Felicidade

Por Thainá
     
     Confesso que há muito tempo venho me perguntando o significado dessa palavra. Abrange muitos significados, abrange uma maré de coisas que não são todos capazes de explicar. Pois bem, como falar de felicidade sem falar do seu oposto? Percebi que já não era feliz completamente. Muitas coisas da minha vida passaram em branco, cresci sozinho, lutei sozinho, para não ser mais isolado, e exatamente isso me ocorre agora. Nunca tive atenção dos meus pais, nem das pessoas ao meu redor, tentava às vezes mudar isso, mas na idade que estou já me esgotei de tentar mudar algo. Até que ponto uma pessoa consegue ser infeliz? 
    Andando nas ruas outro dia, fazendo meu caminho rotineiro ao metrô, já que meu carro por sinal está quebrado, fui abordado por um adolescente, aproximadamente quinze anos de idade, roupas rasgadas, aparência suja. Ele me pediu dinheiro, e acostumada com meninos dessa idade usando drogas, recusei o pedido dele e avisei que se ele estivesse com fome, pagaria um lanche. O garoto concordou e desviamos o caminho para a padaria mais próxima.
     Chegando lá, disse a ele que poderia escolher qualquer coisa que quisesse desde que fosse rápido para não me atrasar, e depois de pagar, o menino pediu que eu ficasse mais um pouco. Sentamos, após relutar um pouco, numa mesa, e senti vários olhares lançados para nós, as pessoas encaravam mesmo. Ele me contou que estava acostumado a olhares tortos e que muitos recusavam lhe dar dinheiro exatamente por acharem que ele usaria drogas. Contou que estava nas ruas porque os pais foram presos, e que fazia em torno de uma refeição apenas por dia e nunca comia tudo, para guardar para os irmãos. Me contou que seu nome era Leonardo e que seu sonho era estudar e poder voltar no tempo, ter a infância que nunca teve. Comovido, comprei mais algumas coisas, para seus irmãos e seguimos para o metrô.
    Leonardo fez questão de me deixar nas escadas e aos nos despedirmos ele perguntou se poderia me abraçar para agradecer. Ao me abraçar, ele falou baixo que poucas pessoas tinham o coração que eu tenho, agradeceu por eu ter tirado uma parte do meu dia para ele e comentou que era o primeiro ano que ele comemorava o aniversário dele. Sim, a felicidade estampada no rosto daquele garoto era simplesmente por alguém ter se importado com ele em um dia tão importante e que era sempre esquecido.
        Me dei conta então de que muitas vezes a sensação de alegria me vinha com coisas simples, como ver minha cachorra tentando pular na cama para me dar bom dia, receber mensagem do namorado dizendo que estava com saudade mesmo que nos tivéssemos apenas parado de falar para dormir, ou abrir a janela e sentir o sol inundando meu quarto, e até mesmo tirar cinco minutos do meu dia para fazer alguém feliz. A aparência, o status, e as coisas materiais para mim pareciam ser a felicidade completa. Mas ao perceber que elas me saciavam apenas por um momento, todas as outras coisas, relacionadas aos sentimentos tomaram conta da minha vida de uma maneira bem mais intensa.
    A felicidade agora, não é algo, para mim, que se busque. Ela acontece, é natural, e está nas coisas simples da vida. Após o ocorrido com Leonardo, parei de me cobrar tanto. Vi que o que eu tinha, tanto materialmente como afetivamente, era infinito comparado a ele, e que eu deveria levar uma vida mais positiva. Aproveitar tudo, porque não sabia como as coisas iam ser depois. E parar de julgar. Se todos tomassem uma atitude parecida, talvez fossem e fizessem alguém mais feliz. 

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