Resenha Crítica - Peça Les Misérables

Hannah Ramos

Cena final da primeira parte da peça.

Todos nós, em algum momento de nossas vidas, ouvimos falar sobre Os Miseráveis. Mas o que é isso?
Os Miseráveis é um romance escrito pelo francês Victor Hugo publicado, pela primeira vez, em 1862, e é considerado uma das maiores e mais importantes obras do século XIX. A história se passa na França do mesmo século de sua publicação, entre a Batalha de Waterloo (1815) e os motins de junho de 1832, e conta os desafios da vida de diversos personagens e suas interações entre si. Os personagens de maior destaque são Jean Valjean, um ex-presidiário condenado a 19 anos de prisão por roubar um pão que consegue uma nova chance para se reinserir na sociedade; Fantine, uma costureira parisiense que é abandonada com uma filha pelo seu amante; Cosette, filha de Fantine, que é obrigada a trabalhar para uma família em troca de comida e moradia; Javert, um oficial da polícia que persegue Jean Valjean; Marius Pontmercy, um aristocrata não reconhecido que se desentende com seu avô monarquista devido a suas ideias liberais; os Thénardier, a família que adota Cosette e a maltrata e abusa; Éponine, filha mais velha dos Thénardier, que mesmo mimada pelos seus pais, acaba virando uma menina de rua; Gavroche, filho mais velho dos Thénardier que é renegado pelos pais e mora sozinho na rua; e Enjolras, que é o líder dos revolucionários no levante de Paris. A história se desenvolve explorando essas camadas mais desprivilegiadas da sociedade, enquanto aborda a história da França, política, morais sociais e filosóficas francesas da época, antimonarquismo, justiça, religião, o amor romântico e o familiar. Os Miseráveis se popularizou muito e ganhou inúmeras adaptações cinematográficas, teatrais e televisivas, além de ganhar até hoje, como veremos a seguir.
A primeira adaptação musical do romance de cinco volumes foi feita em 1980, em Paris, e se tornou um dos musicais de maior sucesso na história. Cinco anos depois, foi feita uma adaptação em inglês do mesmo musical, que estreou em Londres. E, depois de várias adaptações musicais diferentes, chegamos na peça que está sendo apresentada esse ano aqui em São Paulo. A versão musical Les Misérables que está sendo apresentada atualmente é uma produção da Broadway, já assistida por mais de 70 milhões de pessoas de 44 países diferentes, traduzida para 22 línguas.
A peça tem aproximadamente três horas de duração e é divida em duas partes: a primeira, que conta a história inicial de cada personagem principal e termina no início da revolução, e a segunda, que tem o desfecho tanto da revolução quanto da história dos personagens. Entre as duas partes tem um pequeno intervalo, para ir ao banheiro, e para que se possam comprar comida e bebida e os produtos oficiais, tudo dentro do próprio teatro.
Agora, sobre a peça em si, existem pontos muito importantes que devem ser destacados. Durante todas as quase três horas de espetáculo, a peça é inteiramente cantada, não há nenhum momento de diálogo normal. O extenso elenco dá muito movimento e um coral incrível para as músicas em que a participação do coletivo deve ser muito bem destacada. O cenário, repleto de representações luminosas coloridas e construções muitíssimo bem elaboradas, com as quais os atores interagem com muita frequência, muda de acordo com o foco da história no momento e acrescenta muito na beleza visual da apresentação. A coreografia, principalmente a da última música da primeira parte, é absolutamente sensacional e consegue transmitir todos o sentimentos principais daquele momento específico. Todas as músicas são executadas por uma orquestra localizada dentro do próprio anfiteatro, então a dramatização fica ainda mais intensa. Todos os atores que representam personagens principais tem pelo menos alguns minutos de canto sozinhos, e mesmo com mais de uma apresentação por dia, não se muda nenhum ator. Apenas no caso do protagonista, Jean Valjean, e em raros casos dos outros personagens, pode ser que seja necessário a troca do ator porque, como protagonista, Valjean é o que mais canta e mais tem solos. Na peça que eu vi, Valjean foi representado por Daniel Diges, um ator espanhol que, na Espanha, atuou como outro personagem dessa mesma adaptação da Broadway e é, oficialmente, o protagonista da versão brasileira da peça. Todos os outros atores da peça cantam maravilhosamente, com um tom de sentimento na voz que te transmite exatamente o que eles estão sentindo, mas para mim, o Jean Valjean de Daniel Diges foi o que mais se destacou. Seus solos eram repletos de notas longas e carregadas de emoção, realmente capazes de te emocionar a ponto de encher seus olhos d'água. E mesmo sendo inteiramente cantada, com coreografia e uma direção de arte sensacional, a história não se perde em nenhum momento. Abrange todos os pontos principais da obra de Victor Hugo com muita categoria e não deixa a desejar em quesitos de entendimento.
Les Miserábles está em cartaz no Teatro Renault até o dia 30 de julho desse ano. Os ingressos variam de R$25 a R$330. De quinta e sexta, às 21h. De sábado, às 16h e 21h. E de domingo, às 15h e 20h. Aqui está o site oficial da peça e aqui está o site oficial do Teatro Renault. Os ingressos podem ser comprados pelo site, somando valor de taxa, ou na bilheteria do próprio teatro, sem a taxa adicional. Não deixem de assistir essa peça, que é absolutamente sensacional. Uma verdadeira obra-prima.

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